Esta noite sonhei que tinha sido convidado para integrar o governo. Ia ficar com uma nova pasta, muito onerosa, a dos ministros e dos secretários de estado e dos subsecretários de estado e dos infrasubsecretários de estado demitidos, demissionários e demitentes. Andava muito cansado. Felizmente, sou uma pessoa em que inteligência e criatividade peregrinam de mãos dadas. Lembrei-me de um golpe de mestre, contratei Nala, a minha cadela, para secretária de estado do novo ministério por mim ministrado: Ministério das Exonerações. Fazíamos um sucesso, tínhamos óptima imprensa, até o Bugalho nos elogiava na CNN. Bento, Ferrão e Gomes Ferreira debatiam com polígrafa honorabilidade a nossa performance, garantindo que tinha sido uma excelente solução encontrada para pôr um ponto final às sucessivas crises que abalavam a maioria. Sempre que um ministro saía do governo, eu atirava-o para longe e dizia "busca". Nala corria na direcção do ministro e trazia-o de volta, toda contente, com o rabinho agitado em helicóptero. Ela andava estafada, eu também fiquei com algumas entorses e uma tendinite no ombro direito, mas nada nos demovia do cumprimento da nossa missão. Lá vai mais um secretário. Busca, Nala. E ela corria e buscava. A imprensa toda deveras impressionadíssima, o próprio Presidente da República, ou seja, Presidente dos Média, andava boquiaberto e já dizia sempre que o incomodavam com assuntos menores como, por exemplo, os direitos humanos: "Isso agora não interessa. Nala vai buscar mais um ministro. Concentremo-nos nisso." Falava-se inclusivamente na hipótese muito provável e quase de certeza verosímil de eu poder descender ao cargo de primeiro-ministro. Se digo descender, não é com cinismo. Acreditem, nós estávamos mesmo no topo. Eu e Nala éramos mesmo top.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
BUSCA
Esta noite sonhei que tinha sido convidado para integrar o governo. Ia ficar com uma nova pasta, muito onerosa, a dos ministros e dos secretários de estado e dos subsecretários de estado e dos infrasubsecretários de estado demitidos, demissionários e demitentes. Andava muito cansado. Felizmente, sou uma pessoa em que inteligência e criatividade peregrinam de mãos dadas. Lembrei-me de um golpe de mestre, contratei Nala, a minha cadela, para secretária de estado do novo ministério por mim ministrado: Ministério das Exonerações. Fazíamos um sucesso, tínhamos óptima imprensa, até o Bugalho nos elogiava na CNN. Bento, Ferrão e Gomes Ferreira debatiam com polígrafa honorabilidade a nossa performance, garantindo que tinha sido uma excelente solução encontrada para pôr um ponto final às sucessivas crises que abalavam a maioria. Sempre que um ministro saía do governo, eu atirava-o para longe e dizia "busca". Nala corria na direcção do ministro e trazia-o de volta, toda contente, com o rabinho agitado em helicóptero. Ela andava estafada, eu também fiquei com algumas entorses e uma tendinite no ombro direito, mas nada nos demovia do cumprimento da nossa missão. Lá vai mais um secretário. Busca, Nala. E ela corria e buscava. A imprensa toda deveras impressionadíssima, o próprio Presidente da República, ou seja, Presidente dos Média, andava boquiaberto e já dizia sempre que o incomodavam com assuntos menores como, por exemplo, os direitos humanos: "Isso agora não interessa. Nala vai buscar mais um ministro. Concentremo-nos nisso." Falava-se inclusivamente na hipótese muito provável e quase de certeza verosímil de eu poder descender ao cargo de primeiro-ministro. Se digo descender, não é com cinismo. Acreditem, nós estávamos mesmo no topo. Eu e Nala éramos mesmo top.
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