quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

DIGICHANT (2001)

 


Surgiu-me esta ideia ao tomar conhecimento de roteiros turísticos em cidades imaginárias, esta ideia de mapear os desaparecimentos. Refiro-me aos desaparecidos em combate, isto é, àqueles para sempre silenciados por vontade própria ou por respeito aos apetites da morte, mas também a quem se afasta de mansinho e à bruta, os esquecidos que afloram à mente pelas razões menos matemáticas. Devíamos mapear geometricamente as separações, tecer uma ciência dos silêncios, marcar em cada parte do corpo aquela costura em que sentimos mais a falta deste ou daquele arredado sujeito. Eu, por exemplo, ressinto-me de quando em vez nas narinas, o aroma de certas peles faz-me falta, mas também padeço de ausências na cavidade do ouvido em que se estende a membrana sonora (fui ver ao Priberam a definição de tímpano). Resolvi, por isso, mapear os que me escaparam, os fugidos, os esquecidos, os afastados, aqueles que de mim se apartaram e aqueles de que me alienei, um mapa de ausências para ter presente quem me faz falta. Surpreendi-me com o número. Estou já a trabalhar num roteiro pelos espaços deixados num vazio insuportavelmente nostálgico, um roteiro que me permita comparecer diante das omissões com uma bandeira branca: pedir paz, dizer estou aqui, perguntar a mortos e vivos: por onde andais? Quem responderá ao meu apelo, os mortos ou os vivos? Alguém sabe o que é feito da Ursula Rucker?

1 comentário:

João disse...

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