Surgiu-me esta ideia ao tomar
conhecimento de roteiros turísticos em cidades imaginárias, esta ideia de
mapear os desaparecimentos. Refiro-me aos desaparecidos em combate, isto é,
àqueles para sempre silenciados por vontade própria ou por respeito aos
apetites da morte, mas também a quem se afasta de mansinho e à bruta, os
esquecidos que afloram à mente pelas razões menos matemáticas. Devíamos mapear
geometricamente as separações, tecer uma ciência dos silêncios, marcar em cada
parte do corpo aquela costura em que sentimos mais a falta deste ou daquele
arredado sujeito. Eu, por exemplo, ressinto-me de quando em vez nas narinas, o
aroma de certas peles faz-me falta, mas também padeço de ausências na cavidade
do ouvido em que se estende a membrana sonora (fui ver ao Priberam a definição
de tímpano). Resolvi, por isso, mapear os que me escaparam, os fugidos, os
esquecidos, os afastados, aqueles que de mim se apartaram e aqueles de que me
alienei, um mapa de ausências para ter presente quem me faz falta. Surpreendi-me
com o número. Estou já a trabalhar num roteiro pelos espaços deixados num vazio
insuportavelmente nostálgico, um roteiro que me permita comparecer diante das
omissões com uma bandeira branca: pedir paz, dizer estou aqui, perguntar a
mortos e vivos: por onde andais? Quem responderá ao meu apelo, os mortos ou os
vivos? Alguém sabe o que é feito da Ursula Rucker?
1 comentário:
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