Onde estarão agora os que foram meninos comigo, meus
companheiros de bibe e calção? gostava de ir lá vê-los à nossa infância, de
irmos todos, reconhecermos todos como nossa ainda a pureza antiga, os projectos
que enterrámos, as ilusões, os actos falhados. E, com efeito, o mundo dos
adultos está cada vez mais triste, mais crápula, mais ratazana. É uma bicharada
que vai a correr prò buraco do coval, comprometida e lassa, sem alegria, sem
carácter, sem sentimentos, sem dignidade nenhuma. Não são gente: são baratas
medrosas, assustadas sempre, que andam de luto por eles-mesmos e se escondem
quando pressentem uma luz, a ousadia dum gesto, a virtude duma palavra.
Adultos, cadáveres de jovens. Metem dó, metem nojo, tão velhinhos e tão
resignados. Cagarolas.
Luiz Pacheco, in Teodolito (1962).
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