Eram 1000 e cantavam
com máscaras de medo
incrustadas na carne
Talvez metade
quem sabe
um a um acomodados
nas galerias
enquanto à superfície
o fogo das tropas
encenava peças de fumo
e abria crateras no chão
Tudo em ruínas
passado
presente e futuro
Eram talvez 300 e respiravam
sob os escombros
ossos e pedras confundiam-se
Impossível saber quantos eram
talvez 1000, 300, 100
representando pela última vez
a tragédia do medo
com olhos de espanto
Ao cair do pano
um sopro
Eram num teatro
e julgavam-se protegidos
do horror sem figurinos
de que fomos plateia
que não esquece
Nota: escrito a 27 de Março de 2022 a propósito do
bombardeamento de um teatro em Mariupol, Donetsk. Recuperado e reescrito agora
com fotografia de ensaio de "Ajax, Regresso(s)", de Jean-Pierre
Sarrazac, que estreará no próximo dia 16 de Março com encenação de Fernando
Mora Ramos na Sala Estúdio do Teatro da Rainha. Na imagem, dois elementos do
coro de vozes, a Beatriz Antunes, de frente, e a Isabel Lopes, de costas.
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