“Pre-Millennium
Tension”: Tricky
Houve uma fase da minha vida em que ouvia muito trip hop, género musical com raízes fortes na cidade de Bristol, essencialmente apoiado em programações e samplers, cortes e recortes, trabalho de colagem. Massive Attack, primeiro. Depois, Tricky, Portishead, Earthling e projectos congéneres surgidos na Áustria, Islândia, Noruega, etc. Assisti a um concerto de Tricky no Coliseu dos Recreios quando ele estava na melhor forma, no dia 18 de Maio de 1997, digressão do extraordinário “Pre-Millennium Tension” (1996). Para trás havia “Maxinquaye” (1995), considerado pela crítica uma obra-prima, e “Nearly God” (1996), projecto heteronímico a fintar os ditames da indústria musical. Fiquei impressionado com a figura erecta em palco, agitada como que por um vento de raiva que o não descolava do mesmo lugar, agarrado ao tripé do microfone a sussurrar coisas contra o governo ao mesmo tempo que relatava histórias de amor e lutas pessoais contra regimes de integração opressivos. Esguio, mas com uma presença gigantesca. De seu nome verdadeiro Adrian Nicholas Matthews Thaws, Tricky começou com os Massive Attack e rapidamente se tornou numa das figuras centrais do movimento de Bristol. Ao lado da vocalista Martina Topley-Bird, foi-se impondo enquanto relator da vida nos subúrbios, o gueto, resistindo aos apelos do estrelato, mantendo-se no interior de imagens sufocantes delineadoras de um universo pessoal em conflito aberto com o status quo. A infância numa família disfuncional, a adolescência conturbada, o suicídio de uma filha, a vida errante e errática, hão-de ter contribuído para esta música que surge constantemente envolta numa densa nuvem de fumo, mesmo quando se aproxima de uma pop, por assim dizer, mais convencional. Tem um álbum, não dos melhores, que se intitula “Ununiform” (2017). Talvez seja essa a melhor designação para falar da música que faz.
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