domingo, 5 de outubro de 2025

50 X 35

 


“Axis: Bold as Love”: The Jimi Hendrix Experience
 
Peguemos em “Axis: Bold as Love” (1967), da The Jimi Hendrix Experience, enquanto exemplo acabado de como também no universo da chamada cultura de massas surgem, por vezes, fendas que nos permitem espreitar outros territórios. Hendrix (Johnny Allen de baptismo), teve uma infância semelhante à de muitos negros nos states. Nasceu em Seattle no seio de uma família problemática, assaltada pelo alcoolismo de uma mãe que morreria prematuramente com cirrose. As discussões familiares eram frequentes e o miúdo não descansou enquanto não encontrou refúgio. Primeiro, num ukulele encontrado no lixo com uma única corda. Depois, aos 15, numa guitarra acústica. Curiosamente, nem o ukelele nem a guitarra acústica são aquilo por que se tornou conhecido: génio da electrificação, domador de feedbacks e ruídos, inovador na utilização da tecnologia ao serviço de uma música que era produto de um tempo disruptivo. A reivindicação de um mundo próprio não podia ser mais evidente do que é nos versos de “If Six Was Nine”, um tema, de resto, todo ele construído enquanto antítese das normas de mercado: «If all the hippies cut off all their hair / I don't care, I don't care / Dig, cause I got my own world to live through / And uh, and I ain't going to copy you». O seu próprio mundo desenhou-o Hendrix baseando-se nas cores invocadas em “Bold as Love”, não em notas ou acordes convencionais. Os estilos são diversos e percebem-se perfeitamente no alinhamento do seu segundo álbum, desde a toada jazzy de “Up From the Skies” à magistral balada “Little Wing”, passando, claro, pelo rock psicadélico, a pop (“She’s So Fine”, cantada e escrita pelo baixista Noel Redding, podia ser um tema dos The Beatles) e o R&B.

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