“Axis: Bold as Love”: The Jimi Hendrix Experience
Peguemos em “Axis:
Bold as Love” (1967), da The Jimi Hendrix Experience, enquanto exemplo acabado
de como também no universo da chamada cultura de massas surgem, por vezes,
fendas que nos permitem espreitar outros territórios. Hendrix (Johnny Allen de
baptismo), teve uma infância semelhante à de muitos negros nos states. Nasceu
em Seattle no seio de uma família problemática, assaltada pelo alcoolismo de
uma mãe que morreria prematuramente com cirrose. As discussões familiares eram
frequentes e o miúdo não descansou enquanto não encontrou refúgio. Primeiro,
num ukulele encontrado no lixo com uma única corda. Depois, aos 15, numa
guitarra acústica. Curiosamente, nem o ukelele nem a guitarra acústica são
aquilo por que se tornou conhecido: génio da electrificação, domador de
feedbacks e ruídos, inovador na utilização da tecnologia ao serviço de uma
música que era produto de um tempo disruptivo. A reivindicação de um mundo
próprio não podia ser mais evidente do que é nos versos de “If Six Was Nine”,
um tema, de resto, todo ele construído enquanto antítese das normas de mercado:
«If all the hippies cut off all their hair / I don't care, I don't care / Dig,
cause I got my own world to live through / And uh, and I ain't going to copy
you». O seu próprio mundo desenhou-o Hendrix baseando-se nas cores invocadas em
“Bold as Love”, não em notas ou acordes convencionais. Os estilos são diversos
e percebem-se perfeitamente no alinhamento do seu segundo álbum, desde a toada
jazzy de “Up From the Skies” à magistral balada “Little Wing”, passando, claro,
pelo rock psicadélico, a pop (“She’s So Fine”, cantada e escrita pelo baixista
Noel Redding, podia ser um tema dos The Beatles) e o R&B.

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