terça-feira, 28 de maio de 2013

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Quando o filme de Oliver Stone apareceu, fui vê-lo uma meia dúzia de vezes. Gamei os cartazes afixados nas vitrinas do cinema lá da terra. Andava deslumbrado com a recriação do mito, sem ter a mínima noção do quão falhada era aquela obra. Para um jovem que passava tardes inteiras a traduzir An American Prayer, o percurso dos The Doors levado à tela tinha algo de miraculoso. Hoje, o milagre transformou-se num produto banal. O encanto perdeu-se. Mas há uma cena que guardo com inexplicável fulgor. Jim e Pam vão dar uma festa, estão ambos alucinados. Meteram ácidos. Ela está rodeada dos papéis dele, tenta organizar o caos, queixa-se do desleixo do amante e diz-lhe, num tom quase maternal, que ele devia ordenar os escritos. Jim alheia-se, foge à questão, faz umas parvoíces. Até que chega à festa uma das suas mais ameaçadoras amantes. Jim provoca, Pam perde as estribeiras. O pato que estava a assar no forno acaba espezinhado, a festa termina, excepto para meia dúzia de amigos bêbedos que não se importam de comer carne amassada pelas solas do Rei Lagarto. Acaba tudo num incêndio provocado pelo poeta, com a sua amante enclausurada num guarda-fatos. Hoje diríamos que é uma cena de violência doméstica entre amantes alucinados. Mas é mais do que isso, é uma mulher à procura de um fio condutor para o caos. O que ressalta da cena é a imagem de Pam perdida num labirinto de papéis, escritos desorganizados, aleatórios, o pântano dos poetas onde frequentemente se afundam vidas inteiras. Gosto muito daquela cena. Acho que tem algo de revelador. Quando escrevi este poema, acho que era nessa cena que estava a pensar.

3 comentários:

Tolan disse...

É de facto uma obra falhada, mas também eu fiquei encantado com ela, nao tanto como tu, é certo :) Há tempos revi um bocado, estava a dar na tv e pensei "mas quem era eu em 1990 e tal?"... é que só a tromba do Val Kilmer....o teu poema, é muito bom. Um dia explicas-me a poesia, mostras-me exemplos e explicas-me. O ideal era ser noutro jantar como o que tivemos em Peniche :) abraço!

Luis Eme disse...

fiquei curioso pelo poema...

rff disse...

Estou Contigo, Companheiro, quer quanto à sobrevalorização do filme nas nossas vidas, quer na referência que fazes a essa precisa cena. Também é umas minhas preferidas, mas da melhor para mim tens aqui o som (apenas, não encontrei o excerto) - moonligt drive à capela por um Val Kilmer esforçado no meio do deserto: http://youtu.be/9S3HcKll4OY

Let's swim to the moon,
let's climb through the tide.
Penetrate the,
evening that the,
city sleeps to hide.
Let's swim out tonight love,
it's our time to try.
Park besides the ocean,
on our moonlight drive.
Let's swim to the moon,
let's climb through the tide.
Surrender to the waking world,
that laps against our side
Nothing left open and no time to decide.
We'll stop into a river on our moonlight drive.