segunda-feira, 8 de junho de 2015

UM POEMA DE RUI COSTA


J.
 
Na bicicleta tão pequena tu eras grande
de mais. Saltando muros, levantando a
roda, até os meus tios vinham ver-te
às voltas no terreiro de asas nas rodas
e jeito tão azul. Mas um dia
ganhei-te na corrida. Tu sorriste,
deste-me piratas e eu nunca soube bem porquê.
 
Mas não foi por causa disso que morreste.
Um dia de manhã os teus pés parados sem saber.
Morreste nesse dia e eu nem sequer
chorei. Não é preciso, amigo.
Chegaste primeiro desta vez. És o maior:
 
A morte é uma bicicleta, tenho
a certeza disso.
 
 
 
Nota: com um agradecimento à Cláudia Souto pela partilha da imagem.

4 comentários:

Ana Alexandre disse...

Sempre é bom arrumar a casa :-) Até já.

Claudia Sousa Dias disse...

Ainda ontem e nos dias que o antecederam me lembrei dele. De como foi olimpicamente ignorado pela crítica e pelos editores que rejeitaram as suas magníficas obras.

hmbf disse...

Foi e é. Mas justifica-se, afinal há para aí tanta miúda gira a escrever tanto poema e tanto jovem de boas famílias e bem relacionado.

Claudia Sousa Dias disse...

Isso é verdade. Conheço vários casos assim. Infelizmente.