quarta-feira, 8 de julho de 2015

DÍVIDAS

Escuto o discurso enraivecido: eles que nos paguem o que devem e vão à vida deles. O que nos devem os gregos? Desconfio que muita gente não saiba o que é dívida pública. Conviria explicar-lhes, estivessem interessados em aprender. Não estão. Certas pessoas preferem falar sem informação, simplesmente intoxicadas pelos discursos facciosos do clube a que pertencem. Podiam, pelo menos, abrir o jornal e ler qualquer coisa como isto:
 
Em seis anos, a dívida pública do conjunto dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aumentou 34,7pontos percentuais, com Irlanda, Grécia e Portugal a registarem as maiores subidas. (…) Os dados que a OCDE cita para concluir que houve um aumento próximo dos 35 pontos percentuais refere-se ao período de 2007 a 2013. A trajectória ascendente coloca Portugal como o quarto país com o maior nível de dívida pública quando comparada com o Produto Interno Bruto (PIB). Em 2014, esse rácio era de 130,2%. Com um nível de dívida pública maior apenas surgem o Japão (226%), a Grécia (177,4%) e Itália (132%). A OCDE nota que países acumularam dívida pública para “financiar despesas acima das suas receitas” e considera que, como resultado da crise, muitos países “aumentaram a despesa, através de pacotes de estímulo e intervenções para suportar as instituições financeiras, incorrendo por isso em dívida pública. Em muitos países da OCDE, a colecta das receitas também diminuiu, aumentando a pressão sobre as finanças públicas”. No conjunto dos países da OCDE para os quais há estatísticas disponíveis, o pagamento de juros representou, em média, 2,9% do PIB em 2013. Portugal está, com a Itália e a Islândia, no topo dos países onde este encargo foi mais alto quando comparado com o PIB. Nestes três países, o pagamento de juros ascendeu a 5% do PIB. Em sentido oposto, os valores mais baixos registaram-se na Estónia e no Luxemburgo, com um rácio inferior a 0,5%.
 
E fala a ministra em "cofres cheios", sem se rir. Os gregos estão a tentar resolver isto na casa deles, pois já perceberam que não é a pagar juros inqualificáveis às instituições que conseguem resolver a dívida. Portugal, obediente às medidas impostas pelos chamados credores, lá se vai afundando à custa de filas cada vez maiores para a sopa dos pobres. Esqueçam os €60 por pessoa no MB, talvez nós devamos também pagar o que devemos e depois ir à nossa vida. Talvez seja essa a solução para todos, pagarem o que devem e, depois, irem à sua vida. Já que para a vida mostram ter jeito, prostituindo-se desta maneira. Ou talvez, daqui a uns tempos, estejamos todos a dizer que, afinal, mais uma vez, somos nós quem deve qualquer coisinha aos gregos. Veremos.

3 comentários:

rff disse...

Não percebem, nem nunca perceberão...

Há algo que eu já devo aos gregos: uma réstia de esperança num mundo mais justo para o meu e para as tuas...

MJLF disse...

Portugal tem os cofres cheios de estupidez.

hmbf disse...

RFF, a esperança mata.

MJLF, a quem o dizes.