quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

"MISE-EN-SCÈNE DE UMA TEMPESTADE INEXISTENTE"

As minhas particulares circunstâncias fazem com que assista, durante alguns minutos, à emissão de um noticiário da manhã numa estação televisiva enquanto tomo o café num estabelecimento. O conteúdo e a sucessão das notícias orienta-se no sentido da instilação do medo, da fragilidade, da impotência e, nestes sentimentos induzidos onde a vontade não deve existir, do lugar protector, porque informativo, do meio de comunicação. A televisão está aqui, é nossa amiga, dá voz à nossa miséria, alguém nos virá proteger. Mas a televisão não está naquele lugar com intuitos profilácticos ou altruístas; a televisão está naquele lugar para fazer dinheiro, porque a sua presença é injustificada, dado que a repórter alerta para uma tempestade marítima que não existe, para a violência do vento que não se verifica. Nada mais para além das condições vulgares do Inverno nesta localização geográfica do Mundo. Esta dramatização ridícula atinge o ponto culminante quando a emissão “cai” sem condições meteorológicas tão adversas que o justifiquem. O bordel “informativo” apoderou-se dos Elementos enquanto arma de arremesso no prostíbulo geral da domesticação. Concluída esta mise-en-scène de uma tempestade inexistente, concluída com a interrupção provavelmente forjada da emissão, transporta-se a ópera-bufa para outro lugar onde também se sente a adversidade do Inverno. É natural: vigora o Inverno no Hemisfério Norte.


Jorge Muchagato, aqui.


2 comentários:

Jorge Muchagato disse...

Henrique, obrigado pela distinção da partilha, abraço.

hmbf disse...

Ora essa.