O fascínio exercido por Marcelo é um claro sinal de
derrota. Não desta ou daquela facção política, mas da política ela mesma.
Marcelo é omnipresente, tal como se espera de um Deus. E as massas, impelidas
pelo servilismo dos media, seguem o seu caminho na direcção do abismo
endeusando Marcelo.
Na realidade, o melhor que Marcelo tem é ser uma lufada de ar
fresco depois de dez anos de mofo cavaquista. Mas com o ar fresco de Marcelo
chegam-nos fragrâncias inebriantes contra as quais devemos proteger-nos (sob
pena de endoidecermos).
Marcelo é um teste à lucidez, um desafio à clarividência.
No mesmo dia, senão numa mesma hora, é capaz de opinar sobre vendas de bancos e
resultados futebolísticos; depois de distribuir sopa pelos pobres, aperalta-se
para um desfile de moda; encarna a postura doutoral com a mesma facilidade com
que veste as máscaras do povo.
Sucede que entre ouvir Marcelo perorar sobre o estado
do mundo e escutá-lo enaltecer a qualidade dos sabonetes produzidos em Portugal
não há diferença alguma, faz tudo parte de um espectáculo cujo principal
objectivo é o de todos os espectáculos que a política vai engendrando desde os
coliseus romanos, ou seja, manter os níveis de ignorância do povo que garantem a perpetuação no poder de uma determinada classe.
Marcelo aligeira-nos os
dias, por assim dizer, demitindo-nos de exercer sobre eles o espírito crítico
que exigiriam não andássemos tão arredados.
Marcelo é um mestre da patinagem, uma patinagem que nada tem de artística. Ele é a imagem de um país a patinar na lama, como um veículo que patina e não sai do mesmo lugar.
Sentimo-nos protegidos pela sua
agilidade e abdicamos de pensar, permitimos que nos substitua no espaço público
porque, em boa verdade, nada teríamos a acrescentar. Vacuidades, futilidades,
lugares comuns, são com ele. E nós com ele, colocando a fasquia a um nível que
não seja custoso transpor.
Vamos de patins com Marcelo para onde ele nos levar, mas o mais provável é, sem que dêmos por isso, estarmos já em queda quando ele, perdido de vista, regressa a pé para de onde veio. Olhando para trás os desgraçados que seguiam seu canto, olhando-os com lamento réptil.
Se todos fossem como ele, ouço por aí. Ouço, calo-me,
desvio-me. Se todos fossem como ele, os processos continuariam como continuarão
a prescrever. Ilibando os donos disto tudo, condenando quem trabalha para que tudo mude… ficando na mesma.
3 comentários:
"Na realidade, o melhor que Marcelo tem é ser uma lufada de ar fresco depois de dez anos de mofo cavaquista." Aí é que está, aliás a única justificação para tanto consenso à volta do pior perfil possível para o cargo. Sempre me pareceu desde o início.
Mesmo rezando a todas as nossas senhoras, o mais certo é acabar daqui a anos a levar porrada na rua dos sem-abrigo e d'outros. E será prémio mais que merecido...
Sempre que aparece no ecrã, a toda a hora, imagino-o de patins e maillot.
Camaleão Marcelo, ficava bem com um maillot de licra :)
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