De manhã os rios atravessam a cidade;
à noite os corpos regressam nus
a tempo de ver a luz da meia-noite.
Perguntam: ainda há mãos
que transportem lanternas?
O mundo trauteia canções de marinheiros,
assistimos ao milagre da reprodução dos naufrágios
O desânimo atravessa as ruas
entregue pelo carteiro
E eu respondo: ninguém ama
sem morrer
O entulho que suja
é o que faz o poema
Fábio Neves Marcelino (n. 1987), in Canto Irregular. Estudos
de Filosofia. Dois
volumes de tiragem reduzida precederam a publicação de Canto Irregular (Averno,
Janeiro de 2018). «Como todos os outros poemas deste livro (…), o dístico
dedicado a Antero é o resultado de uma impiedosa operação de desbaste»: Sobra
manhã / na noite de Antero. «Há no autor de Canto Irregular um
genuíno desconforto com a própria condição de poeta que também o singulariza
numa geração em que a regra é a auto-promoção mais ou menos descarada». Quem o
afirma é Luís Miguel Queirós, no Ípsilon de 2 de Março de 2018. Fala ainda de «despojada
concisão» e «sofrida decantação» a propósito desta poesia.
2 comentários:
Esse, da foto, não é o Fábio.
O Fábio é aquele que está desfocado: https://www.publico.pt/2018/03/02/culturaipsilon/noticia/duas-vozes-dissonantes-na-novissima-poesia-portuguesa-1804705
Obrigado, Manuel. Por acaso tenho essa edição em papel, que me induziu em erro.
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