À minha mãe.
Tocaram os sinais numa manhã
de Janeiro. O dia cobriu-se de neblina, uma chuva miudinha aspergiu a terra levantando
aquele odor a memória que captura o pensamento e não mais nos liberta. Por
momentos desejei que o sol tudo secasse e apagasse, deixando-me em paz com o
esquecimento. Por momentos anseio esquecer, mas logo um rosto sorri por entre
as sombras e diz: fui assim. És tu e sorris. É difícil olhar agora para estes
objectos, mãe. Como encarar a roupa e os sapatos e as jóias que te envaideciam?
Como aceitar o exemplo cuidado ao longo dos anos, sem literatura que não fosse a
de estar entre os outros respeitando-os? Tão difícil literatura. Deixámos de
falar em compaixão, no gesto que era o teu de querer bem, acolhendo, dando, e
nada esperando em troca. Herdo-te a tristeza, o gozo de estar só, mas também
essa lei sagrada que exige apenas ser bom, não desperdiçar a vida senão sendo
boa pessoa. Amar a quem nos quer, querer a quem nos ama. Terás o teu cântico. E
um ramo de orquídeas do teu jardim.
5 comentários:
Tão triste, tão bonito. Guarde-a sempre em si.
E fique o melhor possível.
~CC~
Foi sempre assim que a conheci. Uma mulher bondosa, dedicada, muito simples e com grande coração 💓. Os anos passaram e nunca deixou de me tratar por Belinha. Era assim a minha vizinha Clarisse. Força.
Que comovente e bela despedida Henrique.
Deixo-te um abraço do tamanho do mundo e mais ainda, para chegar até ti e toda a família.
Saudades vossas...
O Amor é a maior herança.
Permito-me um abraço.
Um abraço Henrique.
O meu pai em dezembro.
Em boa poesia, é fodido.
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